Pequenas vitórias
Recapitulando, comecei a documentar minha jornada contra a acumulação
em nossa casa no dia 19 de dezembro de 2017. No dia seguinte, encontrei uma
matéria ótima com um resumo do método de organização FlyLady,
e resolvi colocar em prática, ao menos o que já dava pra implementar na hora
(mas não me restringi aos 15 minutos sugeridos pois quero ver os resultados em
bem menos tempo). Nos dias seguintes vivi, duas vezes ao dia (pela manhã antes
de ir trabalhar, e ao voltar no final do dia), a quase aventura de encontrar
pelo menos 27 itens pra doar ou jogar fora. Incrível como vai ficando até mesmo
divertido, quase como um jogo.
Na primeira semana consegui retirar de casa pelo menos 10
sacos de lixo de capacidade de 100 litros, entre materiais recicláveis e
orgânicos. Isso tudo sem contar o que foi separado pra doação: um aquecedor
quebrado, uma pia (sim, uma pia.. Uma pia, que ficou alguns meses no corredor
de entrada do nosso apartamento. A desculpa é que ia ficar só ali no cantinho
por pouco tempo, porque ia ser vendida, mas não foi), um criado-mudo,
utensílios de cozinha, muitas revistas e algumas roupas também, entre outras
coisas.
No final do feriadão (dia 2 de janeiro) o pessoal da
instituição veio recolher tudo, e é incrível como a sala já parece muito maior
do que era. Também nesse tempo consegui lavar todas as paredes da cozinha e
quase todas da sala, e colei alguns taquinhos do parquê que estava soltando há tempos em algumas partes do piso. Nas próximas folgas vou lavar o que falta e continuar a
pintura (que comecei agora no dia 10 de janeiro).
Outra coisa que notei é que os gatos também estão bastante
alegres com mais limpeza e espaço pra brincar! Me sinto uma “mãe” muito mais
feliz. ^__^
Uma alegre surpresa
Bom, perdi a conta de quantos sacos de lixo (capacidade
100l; entre recicláveis e lixos orgânicos) já foram até agora, e devido ao
calor que temos passado (verão) e minhas poucas folgas do trabalho, o processo
ficou um pouco mais lento do que nos primeiros dias. Ainda ouço do meu outro
irmão o eventual “isso ainda pode ser útil”, mas percebo que estamos ficando bem
mais conscientes em termos do que deve ou não ser guardado.
E outra coisa muito boa aconteceu nessas semanas: meu irmão
acumulador apareceu de surpresa em um dia de minha folga, enquanto ainda havia
em casa muitas coisas juntadas por ele que separei pra doação, e também alguns
sacos grandes com variados tipos de lixo. Eu ainda estava no banheiro quando o
ouvi perguntar onde estavam todas as coisas dele que ficavam no canto perto da
cortina da sala. De lá mesmo eu respirei fundo (achei que lá vinha briga) e
calmamente disse que tinha um pouco no roupeiro e mais um pouco dentro da
estante. Ouvi a porta do roupeiro se abrindo. Silêncio... (Seria um bom sinal?
Em tempos anteriores ele já estaria xingando aos gritos..) Saí do banheiro, ele
me perguntou se tinha “baixado a Maria” (se estava faxinando a casa), porque no
ponto em que ele chegou já havia mudanças bastante grandes e positivas.
Eu aproveitei e disse que estávamos há tempos com problemas de baratas, cupins
e outros bichos dentro de casa, e assim já não dava mais.
Agora uma pausa pra explicar que faz alguns meses, após
alguns eventos difíceis onde o apoiamos, ele deixou de ser agressivo conosco
(comportamento que vinha desde a infância) e tem inclusive se desculpado em
algumas situações (e isso nunca acontecia, e agora já temos quase 40 anos de
convivência e pelo menos uns 25 de brigas constantes), e esse foi um dos
motivos de ter resolvido tentar de novo a limpeza geral agora.
O resto da conversa foi bastante tranqüilo. Eu aproveitei a
calma dele e disse que não queria que ele trouxesse mais lixo pra dentro de
casa. A resposta dele foi “que lixo?”, e a minha foi “restos de construção,
coisas velhas que outros jogaram fora, peças velhas, etc” e pra minha surpresa ele
não se alterou em nenhum momento. Outra surpresa foi que ele não tentou em
nenhum momento revirar nenhum dos sacos na sala pra pegar coisas de volta.
Nos dias seguintes ele apareceu mais vezes, e num deles
apenas me perguntou educadamente onde eu havia guardado alguns sapatos, e
quando mostrei onde estavam ele ficou bastante feliz. Em outro momento comentou
comigo que não jogava nada fora. Eu não aproveitei o gancho dessa vez, mas
ainda quero aproveitar (quando a casa estiver um pouco mais limpa e organizada)
e falar sobre o mal que essa acumulação faz (e como muitas vezes só percebemos
quando a situação já foi longe demais), e como fica bonita a casa quando
conseguimos jogar os excessos fora.
Como forma de incluí-lo, torná-lo cúmplice, também pedi que
ele separasse coisas que não quer mais, que já estejam estragadas, pra jogarmos
fora. Não sei se ele vai fazer isso, mas ao menos no momento ele concordou, ao
invés de brigar.
Mas pra equilibrar, o outro irmão tem contestado quanto a
certas coisas que estou separando pra doação. Algumas caixas ele chegou a
revisar (ou melhor dizendo, revistar...) pra ver se eu estava descartando
alguma coisa que ele considerava útil... Essa semana me disse de novo que
poderíamos precisar de algumas dessas coisas. Eu respondi calmamente que ali
estava o perigo, pois com a desculpa de que podemos precisar, terminamos
soterrados em porcarias que pouco ou nunca usamos.
Coisas que têm me ajudado muito nessa jornada
1- A diferença da casa limpa e organizada é muito
grande (não tem argumento contra isso). Os espaços que se abrem mostram como o ambiente era na verdade maior do que se imaginava, apenas era ocupado por tralhas...
2-
Muita calma e bom senso na hora de conversar com
quem acumula (ou mesmo quem a princípio não parece acumular, mas já se
acostumou com a situação, e demonstra o mesmo “medo” de vir a precisar de algum
item), destacando todos os pontos positivos e as melhorias que já aparecem, e
também a questão da limpeza vs saúde e qualidade de vida.
3-
Organizar e limpar sozinha, pois assim ninguém
contesta o que estou fazendo. Sei que em muitos casos é importante que o
acumulador participe da limpeza, pois assim ele vai aprendendo e se prevenindo
de acumular mais. Mas isso nem sempre é possível, nem sempre os outros membros
da família estão preparados pra essa mudança. Como eles dificilmente lembram
das coisas que têm soterradas entre outras coisas, fica mais fácil se livrar
desses itens se eles não estiverem olhando (como roupas manchadas, estragadas,
vidros vazios, alguns papéis velhos, comidas vencidas, etc). No meu caso, se
meus irmãos participassem dessa limpeza, o processo seria muito mais lento e
estressante, e quase nada seria jogado fora. Por isso preferi fazer tudo
sozinha, que é bastante cansativo fisicamente, mas mentalmente é a opção mais
rápida e pacífica.
Tenho que admitir de novo que eu também acumulava muitas
coisas (embora ao longo dos anos eu já tenha me livrado de muitos excessos), e
esse tem sido um processo de libertação pra todos nós. Ainda que a maioria das
coisas que esteja jogando fora agora não tenham sido acumuladas por mim, ver
cada um desses itens desnecessários tomando espaço na casa tem me ajudado a
olhar tudo com uma nova perspectiva, de mais distanciamento emocional. Por
exemplo, antes eu guardava todas as receitas que nossa mãe havia colecionado,
simplesmente pelo fato de que ela havia posto muito amor nessa tarefa de juntar
cada uma delas, pensando em repassar pra nós ou mesmo preparar pra família. Mas
eu resolvi manter somente as receitas que tem maiores possibilidades de
realmente ser utilizadas, e algumas também que ela escreveu à mão. Quando
jogamos fora as pilhas e pilhas de coisas desnecessárias, fica muito mais fácil
valorizar e apreciar os verdadeiros tesouros que antes ficavam escondidos como
apenas mais uma gota de água no oceano do caos e da desordem.
E você? Já fez ou pensou em fazer alguma mudança radical em
sua vida, mesmo sem ter o apoio da família?
My biggest enemy against organisation is tiredness. It also helps me somewhat to keep hoarding under control, because when I imagine the volume of work I'd need to maintain order I just give up and I think twice before bringing/keeping something. This story and especially this post made me remember an episode from the show Nip/tuck about an overweight woman who became stuck to her couch, living several years in her excrements and surrounded by trash. She actually liked cleanliness and wanted her house to look perfect but she became tired from the very thought of the amount of work necessary to get everything the way she wanted it to be. One day she sat down to rest and couldn't get up again. Her husband kept her alive all those years but didn't force her to see a doctor, lose weight or do anything to help the problem because he was afraid she wouldn't love him if he tried to "fix" her. Every time I watch that episode it gets to me. I am very aware that I am one slip away from becoming that woman. I put the most effort into preventing hoarding and when I'm not too tired to clean I try not to let my perfectionism get in the way. Sometimes I do just one room, sometimes I do one shelf, leaving the one above or below dusty... but better to do a little than nothing. As my German teacher puts it, one is more than zero!
ResponderExcluirI'm sorry for taking so long to answer, I didn't see the comment before. ^^' I totally understand what you mean by tiredness in this context. It's not that much a physical thing (though sometimes it can be a bit of that too, and I know your specific case), it's more of a mental overwhelming. It's just too much to deal with, so we withdraw and postpone. I know the feeling, we've done it for years. Sometimes I decide to fix/clean/organize something but then I look at what I have ahead of me and just freak out! And then I go do something else, because it's too much.. We here also had the strong excuse of our younger brother, that because of his drug addiction, was very abusive verbally and sometimes physically too. Also he used to threaten to kill us (I'm so not exaggerating), so over the years we restricted ourselves in many ways just to avoid confrontation. Not even mom could deal with his mess. Sometimes she'd take a whole day to organize his wardrobe, for example, just to see it all messed up a few days later. She did it countless times.. Eventually she started letting his things pile up too.. Add that to the stuff she thought we could still need, then add my stuff (mostly clothes I hoped to fit in after losing the extra weight) and my older brother's collections.. With younger brother being free to bring almost anything inside, soon it became way too much to deal with. Still, mom tried cleaning and organizing what she could, and I kept throwing stuff away (my stuff, their stuff, whatever I knew they had little to none chance of remembering). After her passing I threw and donated a HUGE amount of stuff. And all that before these posts started, so you can imagined what kind of situation we were living.. And I totally agree with you and your teacher, one is definitely waaaaay better than zero, and it IS a huge accomplishment! If even once a week you can do something like that, it is already a victory. One step at a time, we can walk a whole desert. But don't feel bad for feeling overwhelmed or tired, we all go through that. Just breath, calm yourself and focus on just one little thing, like you said. With time the difference becomes very noticeable, and you'll start feeling much better about your surroundings. Here they start to feel more like a house and less of a prision..
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